Laboratório de História da Ufes avança em pesquisas sobre os 190 anos da Assembleia Legislativa do Espírito Santo
- Helio Gualberto Neto
- 22 de out.
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de nov.

Dentro do Arquivo Geral da Assembleia Legislativa do Espírito Santo, um trabalho silencioso e rigoroso tem devolvido voz aos papéis antigos que contam a trajetória de quase dois séculos do Parlamento capixaba. Petições assinadas por lavradores, anais manuscritos do século XIX, registros de sessões legislativas, esses são alguns dos documentos que, antes, repousavam em estantes ou pastas desorganizadas e hoje são matéria-prima de um projeto que alia ciência, história e cidadania.
Em fase avançada, a pesquisa é conduzida pelo Laboratório de História, Poder e Linguagem da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em parceria com a Assembleia Legislativa. Uma iniciativa de reconstrução da memória institucional do Legislativo capixaba, articulada como parte das comemorações pelos 190 anos da Ales.
Comitê histórico
O projeto é coordenado pela professora Adriana Pelleira Campos, chefe do Departamento de História da Ufes, e pelos professores e pesquisadores João Gualberto e Kátia Mattoso. O trio lidera uma equipe composta por estudantes da graduação em História e profissionais da Arquivologia, que têm trabalhado constantemente dentro do acervo da Assembleia para mapear, organizar e analisar documentos raros e pouco acessados até então.

O primeiro ano da pesquisa foi inteiramente dedicado à identificação, triagem e organização do acervo físico. Como destaca Kátia Mattoso, “a história da Assembleia Legislativa ainda é pouco conhecida, em grande parte pela dificuldade de acesso às fontes históricas. Por isso, começamos pelo básico: entender o que havia disponível, organizar esse material e começar a estruturar os grandes eixos temáticos da documentação”.
Esse processo envolveu a leitura criteriosa de documentos datados desde 1828, período anterior à fundação da própria Assembleia. Foram localizadas atas, petições, anais, ofícios e registros diversos que cobrem desde os primórdios do Legislativo até os anos 1930. Segundo os pesquisadores, esse recorte foi escolhido por conter documentação menos sistematizada e mais difícil de ser manuseada, o que reforça o caráter pioneiro do trabalho realizado.
A rotina dos pesquisadores se divide entre o campo e o laboratório. Uma parte da carga horária dos estagiários é cumprida dentro do Arquivo Geral da Assembleia, sob supervisão direta dos professores e do arquivista Michel Caldeira. Lá, participam do levantamento dos documentos, digitalização, transcrição e inserção dos dados em um banco digital estruturado especialmente para a pesquisa.
Parte do trabalho também é feita no ambiente universitário: após digitalizados, os documentos são analisados de forma mais detalhada, cruzando temas, autores, períodos e registros históricos. A coleta empírica permitiu identificar, por exemplo, petições coletivas de lavradores e indígenas, como a que foi enviada em fevereiro de 1835 por 65 trabalhadores, muitos deles analfabetos.
Um dos casos mais emblemáticos revelados pela pesquisa foi o de Vicência, filha de uma ex-escrava, que peticionou à Assembleia solicitando justiça em um processo de herança. Esses episódios revelam não só a função da Assembleia enquanto instância de representação, mas também o desejo da sociedade, ainda no século XIX, de exercer o direito de ser ouvida.
O primeiro ano da pesquisa foi inteiramente dedicado à identificação, triagem e organização do acervo físico. Como destaca Kátia Mattoso, “a história da Assembleia Legislativa ainda é pouco conhecida, em grande parte pela dificuldade de acesso às fontes históricas. Por isso, começamos pelo básico: entender o que havia disponível, organizar esse material e começar a estruturar os grandes eixos temáticos da documentação”.
Esse processo envolveu a leitura criteriosa de documentos datados desde 1828, período anterior à fundação da própria Assembleia. Foram localizadas atas, petições, anais, ofícios e registros diversos que cobrem desde os primórdios do Legislativo até os anos 1930. Segundo os pesquisadores, esse recorte foi escolhido por conter documentação menos sistematizada e mais difícil de ser manuseada, o que reforça o caráter pioneiro do trabalho realizado.

A rotina dos pesquisadores se divide entre o campo e o laboratório. Uma parte da carga horária dos estagiários é cumprida dentro do Arquivo Geral da Assembleia, sob supervisão direta dos professores e do arquivista Michel Caldeira. Lá, participam do levantamento dos documentos, digitalização, transcrição e inserção dos dados em um banco digital estruturado especialmente para a pesquisa.
Da documentação à coletânea: construir história de forma coletiva
Com base nesse extenso levantamento, o projeto prepara agora a publicação de uma coletânea histórica comemorativa dos 190 anos da Assembleia. Dividido em dois volumes, o livro reunirá capítulos escritos por mais de 20 autores convidados, especialistas em áreas como história do direito, educação, saúde e cidadania. A ideia contemplar a complexidade da trajetória institucional da Ales, contextualizando sua atuação em diferentes momentos da história capixaba e brasileira.
“Não seria possível para um pequeno grupo de professores se aprofundar em todos os temas relevantes desses 190 anos. Por isso, convidamos pesquisadores de várias áreas para contribuir com recortes específicos. O papel da equipe do Laboratório foi fornecer a base documental para esses estudos, transformando o levantamento bruto em subsídios históricos organizados”, explica Kátia.
A Assembleia como agente da própria memória
O principal legado deste projeto é a construção de uma memória visível e tangível da Assembleia Legislativa do Espírito Santo. O catálogo a ser publicado no site da Assembleia não apenas coloca o acervo à disposição do público, mas também afirma de maneira definitiva a importância histórica da instituição. Esse acesso público é uma forma de democratizar a história, oferecendo a qualquer pessoa, de qualquer lugar, a oportunidade de conhecer os documentos que formaram e registraram a trajetória política da Assembleia.
"Não é comum que Assembleias Legislativas do país possuam acervos organizados e restaurados com tamanho cuidado científico. Ao restaurar e estruturar seus documentos históricos, o Espírito Santo não apenas preserva sua própria memória, como também se destaca como uma das pioneiras na valorização da história parlamentar brasileira." Afirma Kátia.
Assim, o projeto não apenas preserva, ele projeta, valoriza e oferece ao público uma herança histórica que reafirma a importância da memória institucional para a construção de uma sociedade mais consciente de sua trajetória e de suas raízes.




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